Razões para não aprender a programar

Caio Vaccaro
4 min readMay 10, 2021

No artigo anterior vimos diversas razões positivas para aprender a lógica de programação e até mesmo ser uma pessoa desenvolvedora. Mas existem razões para não adotar essa profissão, como veremos a seguir.

Algumas pessoas defendem que apesar do forte discurso da tecnologia ser a “salvação do planeta” e que todo mundo tem que aprender a programar, isso pode ser parte de um modismo momentâneo. Que, eventualmente, será uma profissão comum como qualquer outra, com o mesmo nível de procura e demanda, salário e benefícios. Nesse sentido vale lembrar que talvez não seja uma profissão tão atraente assim lá na frente.

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Também existe o argumento de toda essa imagem ao redor da profissão ser na verdade uma preocupação em “produzir” mais programadores. Até hoje é uma profissão muito heterogênea, sem um currículo estável e sem uma “produção” constante e previsível desses profissionais ao redor do mundo, além dos estigmas e estereótipos negativos às vezes atribuídos aos programadores. Existe uma motivação política e econômica.

“As pessoas que programam fazem parte de um dos poucos grupos de profissionais que conseguem negociar salários menos injustos em meio a tragédia que é a realidade do salário brasileiro e sua discrepância com o DIEESE. Portanto existe uma preocupação bem comum entre os empresários em fomentar a formação de programadores (vendendo aquela ideia que é a profissão que vai te deixar rico) para aumentar a oferta de mão de obra disponível e diminuir a capacidade de negociação dessa “classe”.” — Gustavo Teodoro, Senior Web Engineer

De qualquer forma essas polaridades e interesses contraditórios sempre vão existir na sociedade e é o papel de cada um avaliar e entender as oportunidades atuais e navegar nelas enquanto for possível, se adaptando sempre.

Alguns benefícios cognitivos ou emocionais foram mencionados antes, mas nesse ponto também existe o outro lado da moeda. A grande capacidade de resolução de problemas também pode virar uma tendência de “criar” ou enxergar problemas onde eles não existem, ou pelo menos dar mais relevância aos problemas do que eles realmente têm. Ao mesmo tempo, a resiliência intelectual que uma pessoa ganha ao programar por muito tempo, não necessariamente se reflete em uma resiliência emocional.

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Ao invés de aprender a abrigar as ambiguidades da vida, pode reforçar tendências de rigidez e fixação mental. A grande capacidade lógica pode virar uma tendência de pensar em “preto e branco”. A habilidade de concentração e determinação pode reforçar teimosia e falta de diversidade. Em resumo, achar que a vida é um algoritmo.

Como qualquer coisa na vida, ser programador é uma decisão que demanda outras atitudes para equilíbrio e por consequência ter uma vida profissional longa. Resiliência e riqueza emocional, flexibilidade, improviso, comunicação e convívio social são algumas formas de contrabalançar essa atividade cognitiva tão intensa.

“Acredito que a programação deveria ser ensinada nas escolas, assim como acredito também no ensino de finanças, diálogo, escuta, política, dentre muitas outras disciplinas que podem impactar na formação de pessoas. Mas este propósito de que as pessoas devem aprender programação em prol do mercado e porque vão ficar “ricas” é uma distorção da realidade e uma romantização barata da profissão que pode induzir muitos jovens a tomarem decisões precipitadas e consequentemente se frustrarem com isso.” — Gustavo Teodoro, Senior Web Engineer

Conclusão

Visto que a tecnologia faz parte integral da vida atual (não só em aparelhos eletrônicos mas influenciando diversas áreas como política, economia e a maioria das áreas profissionais), entender como funciona a lógica de programação é algo que acrescenta muito a qualquer pessoa, da mesma forma que arte, filosofia, música, matemática, história, entre outras. Minimamente entender como a tecnologia funciona e como ela é criada e mantida, abre um leque de oportunidades, tanto pessoais quanto profissionais.

Esse tipo de aprendizado é diferente de ser uma pessoa programadora, o que pode trazer grandes benefícios, mas como qualquer escolha que faça parte de um cotidiano, não é algo auto-suficiente. É necessário organizar outras escolhas de vida para que seja algo equilibrado e proveitoso. Além disso, é interessante sempre pesquisar e estar por dentro de motivações que influenciam o mercado, como o cenário político e econômico. Um grande diferencial é não tentar fazer tudo sozinho (uma forte tendência entre programadores), mas trabalhar em equipe, ter colegas de trabalho, aprender sobre todo o espectro profissional, e principalmente ter mentores que consigam ampliar sua perspectiva mental sempre.

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