Você deve aprender a programar?

Caio Vaccaro
7 min readMay 3, 2021

Introdução

Cada vez mais existe uma hype sobre tecnologia e programação. O mundo está sendo consumido por computadores em diferentes formas e ampliado pela conectividade, especialmente com o advento do 5G e iniciativas como o Starlink do Elon Musk. Durante a pandemia e talvez um novo modelo econômico mundial, profissões do mundo digital se provaram resilientes e adaptáveis, trazendo ainda mais interesse por essas profissões, uma delas sendo a programação.

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Em meio a demandas corporativas de ter mais programadores no mundo para atender as necessidades da constante digitalização que vivemos, vale a pena se perguntar, devo aprender a programar? Ou ainda melhor, como disse uma das entrevistadas, Gela Friedman, Diretora de Tecnologia na Amazon:

“O que significa para alguém não saber programação hoje em dia?”.

Se você não sabe o que é programação, pense que todo tipo de inteligência (qualquer padrão de “quando acontecer isso, faz aquilo”) existente em qualquer aparelho tecnológico vem de algum tipo de programação: televisões, microondas, geladeiras, carros, celulares, computadores e hoje em dia até lâmpadas e outros objetos ainda mais comuns.

Para escrever este artigo, busquei amigos e colegas de trabalho com pontos de vista diferentes. Brasileiros, americanos, residentes não só no Brasil mas também na Europa e Estados Unidos. No total 14 pessoas, todas do meio digital mas nem todas programadoras. A pergunta foi, “Você recomendaria a alguém aprender programação? Por quais razões?”.

Razões para aprender a programar

Noção de indivíduo na sociedade futura
Justamente por estarmos em um mundo digitalizado, não saber programar significa não saber a fundo como as coisas funcionam. Como já falamos antes, software está em tudo, mas além disso, existe uma tendência na sociedade de delegar processos de decisão às máquinas, por serem muito mais constantes e previsíveis que seres humanos. É possível que num futuro não muito distante, sistemas automatizados passem a tomar conta de legislação, fiscalização, economia, e até mesmo eleições e governos.

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“Entender a tecnologia é entender como a sociedade vai funcionar daqui para frente. É entender como a sociedade tenta cada vez mais hackear e manipular o indivíduo, por entender o mecanismo por trás dos algoritmos” — conversa com Ana Paula Daros, Software Engineer no Nubank.

Apesar de trazer facilidades e pontos positivos como mais previsibilidade para a sociedade, para tal é necessário encaixar todas as pessoas em categorias pré-definidas, o que fere a individualidade das pessoas. Entender como os algoritmos funcionam pode motivar as pessoas a procurarem sua individualidade mesmo em meio às tecnologias de massa.

“Aumenta as suas chances de não ser passado para trás.”, como disse Junio Vitorino — Engineering Technical Lead na Plusdin.

Aprender lógica de programação trás raciocínio crítico e colabora para não acreditar totalmente ou ser guiado por algoritmos, desenvolvendo sua própria opinião.

“No mínimo, é fundamental para proteger seus próprios direitos quando se fala de privacidade e o uso de dados em produtos digitais.” — Isabella Silveira, Web Engineer no Spotify.

O que alimenta os algoritmos são os dados. Sem ter dados das pessoas, códigos não conseguem prever ou apresentar soluções para nada. Hoje em dia, tudo que usamos no mundo digital ou é pago e respeita a privacidade do indivíduo, ou é gratuito e vende os seus dados. Apesar de ser um ponto polêmico e com diversos pontos de vista, entender como esse mecanismo funciona traz mais consciência sobre seus direitos e quais dados você quer compartilhar.

Independência e empoderamento
Apesar de cursos, faculdades e as trocas de experiência serem partes muito ricas da carreira em programação, é totalmente possível ser auto-didata, e boa parte da carreira requer esse tipo de atitude. Por esse motivo, muita gente no mundo tenta trazer essa carreira para pessoas em situação vulnerável como forma de empoderamento, inclusão social e independência financeira. Como diz Rafael Gomes, Lead Developer na Intrellit:

“Conseguir entender algo muito complexo, criar coisas sozinho e ganhar dinheiro. Aprender a programar é divertido e você consegue fazer coisas sem depender de quase ninguém.”

Ensina a pensar
Independente do benefício social ou financeiro, Felipe Medina, Diretor de Tecnologia na Work & Co aponta que:

“O aprendizado de lógica de programação é um importante motor de desenvolvimento para todas as pessoas, não importa suas profissões ou as carreiras que desejam seguir. Ter um pensamento analítico encurta o caminho na resolução de problemas complexos.”

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“Entendendo a lógica de como programas de computador funcionam, faz a gente pensar outras coisas do nosso processo de vida e aprendizado de forma lógica também.” — Nataniel Schling — Senior Software Engineer na Globality Inc.

Ou seja, aprender lógica de programação desenvolve uma capacidade intelectual de resolução de problemas, muito útil para todas as áreas da vida. É um motor que pode ser ligado quando for necessário pensar de forma analítica e clara sobre decisões, ou até mesmo questões do dia-a-dia:

“Qualquer pessoa pode fazer algumas pequenas automações no dia-a-dia mesmo. Não precisa nem ser com uma linguagem formal de programação, pode ser só no sentido de como organizar as informações em um excel/google sheet e trabalhar em cima dessas informações” — William Martins, Software Engineer na Flex.

Resiliência
Um outro ponto é a resiliência. Aprender a programar é difícil. Na “vida real” nos deparamos com limitações reais ao ter que resolver problemas e geralmente paramos por aí. Na programação, a tecnologia quase não tem limites e isso exige uma capacidade crescente de raciocínio para resolver problemas e criar novas soluções. Por esse motivo, programar pode ser uma forma de exercitar uma resiliência de não desistir quando houver um problema a ser resolvido.

Criatividade
Da mesma maneira, essa capacidade de resolução de problemas demanda criatividade. É como se perguntar constantemente como você resolveria um problema do mundo real, se não houvessem limites. Por isso, Gela Friedman diz:

“Entender como sistemas são construídos permite que as pessoas a serem mais criativas em qualquer área.”

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Carreira sólida
É claro que não conseguimos prever o futuro, mas olhando a tendência nos últimos tempos e o investimento contínuo na computação, internet, conectividade e software, temos de convir que existirá uma demanda grande por desenvolvedores, pelo menos por um bom tempo. A tecnologia tem na sua própria natureza a solução criativa de problemas que antes não tinham solução, mas também a capacidade de criar problemas onde antes não existiam. Por essa razão sempre existe a necessidade de novos profissionais, a carreira é muito flexível e em constante evolução.

“A demanda por programadores vai apenas aumentar. Então se alguém quer ter um futuro mais certo e seguro, essa é uma escolha sólida” — Gela Friedman, Diretora de Tecnologia na Amazon

É impossível criar algo novo sem criar novos problemas a serem resolvidos, portanto é uma aposta um tanto segura dizer que enquanto houver alguns pilares como energia elétrica, internet e computadores, haverá software e a necessidade de programadores.

“Os salários costumam ser competitivos e o ambiente de trabalho tende a ser flexível e descontraído, com direito a cerveja na geladeira, piscina de bolinha e mesa de ping-pong no escritório; nessas horas vale tudo para aumentar a retenção destes profissionais.” — Isabella Silveira, Web Engineer no Spotify

Além disso, talvez esteja ficando cada vez mais claro como a conectividade e a colaboração mundial serão cada vez mais cruciais para a sobrevivência, e a tecnologia desempenha um papel importante nisso tudo.

Aprendizado constante

“Para alguém inquieta e curiosa como eu, não tem sentimento mais fantástico do que saber que eu vou sempre estar aprendendo.” Isabella Silveira — Web Engineer no Spotify

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Não é para todo mundo, mas para quem gosta de sempre fazer alguma coisa diferente, a tecnologia é um campo fértil. Para não ter estagnação e perda de relevância como profissional, o constante aprendizado e renovação é uma necessidade.

“Pessoas que seguem a carreira de desenvolvimento de software, são agraciadas com uma profissão de constante mutação. Todos os dias aprendemos algo novo com a vibrante colaboração nos projetos e/ou na comunidade. Isso nos ensina a sermos melhores a cada nova linha de código, a cada revisão do trabalho de um par, é realmente gratificante.” — Felipe Medina — Diretor de Tecnologia na Work & Co.

Como tudo na vida, aprender a programar também tem dois lados. Apesar de no fim das contas ser uma escolha muito pessoal, existem razões para não ser programador. É o que veremos na segunda parte deste artigo.

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